mais uma sobre quem escreve…

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Odeio ser tocado… Pois é, está aí uma verdade estranha, considerado o fato de eu ser um ser humano extremamente carinhoso, que adora tocar as pessoas que gosta. Mas eis aí uma verdade séria ao meu respeito… ODEIO SER TOCADO.

   Existe algo entre invadir o espaço pessoal e a permissão para que adentrem este espaço, a linha entre esses dois pólos é muito fina (e para mim quase inexistente), então eu fico incomodado quando as pessoas acreditam que têm essa liberdade de chegar e me abraçar, porque gosto de estar em meu isolamento, é seguro pra mim, é bom, não preciso me preocupar com nada além de mim, e isso me faz bem? Sim, isso me faz um bem extraordinário.

   Eu sei que ninguém é uma ilha, eu sei que vivo em sociedade, eu sei que é sempre bom ter alguém ou algo a que possa se agarrar, e eu me agarro em mim, com todas as minhas forças, eu me seguro na única pessoa em quem confio que é forte o bastante para manter-se firme caso o meu eu interior vacile, esta pessoa é o meu eu exterior, e acreditem, ele segura bem as pontas.

   Bem, vivemos num país onde é costume você ser abraçado quando não está se sentindo bem… Para pessoas que não gostam de ser tocadas (como eu), isso é complicado, porque abraçar e dar tapinhas nas costas são atitudes completamente descartáveis, sério, isso não funciona comigo, não adianta, a não ser que eu tome a iniciativa e abrace ou peça um abraço, aí a coisa muda de figura. É difícil entender, eu sei, mas pensem em uma criança que detesta ser tocada, imaginem… Um pirralho de três para quatro anos, extremamente aborrecido porque as pessoas queriam pegar esta criança no colo e ficar abraçando e/ou beijando; pois é, este era eu, cresci e não mudei muito, continuo uma verdadeira inconha, e não passei a gostar mais de ser tocado.

   Não sou contra demonstrações de afeto, deuses, eu amo demonstrações de afeto, pegar na mão, abraçar, beijar, morder, cheirar, gosto de tudo isso, mas a dois, um casal pode fazer isso numa boa, quando você não está bem, e seu/sua companheirx te abraça, te coloca no colo e faz com que você se sinta protegido, acolhido… Cara isso é ótimo, é lindo, é maravilhoso… Isso é bom, e eu amo esse tipo de contato, mas se você é meu amigo, se é um parente, se é um colega, se é alguém que estudou comigo no maternal e por alguma razão estranha e inquietante se lembra de mim até os dias atuais, por favor, eu repito em  caixa alta, negrito, itálico e sublinho, POR FAVOR, aperte a minha mão, fique a um braço de distância comigo, mas não me abrace.

a história do jardim das rosas de pedra

Certa vez havia um rapaz que vivia num vilarejo próximo a um belo jardim de rosas de pedra. Ele era diferente dos outros meninos e todos o achavam esquisito, pq havia algo mais dentro dele, e ninguém conseguia entendê-lo.

    Isso porque esse menino não era exatamente um menino, e nem uma menina, ele estava entre os dois polos, e não se achava em nenhum deles, as pessoas se sentiam desconfortáveis quando estavam próximas a ele, e ele percebia isso, e por essa razão decidiu viver no Jardim das Rosas de Pedra.

    O Jardim era cercado por altos muros, e o menino acreditou que lá dentro ele estaria seguro do mundo, então, confiante de que aquela era a melhor decisão, ele rumou até o portão do Jardim e se deparou com um ser estranho.

    Não era nada parecido com as pessoas que ele havia visto pois apesar de parecer um rapaz comum, havia algo de diferente nele, os olhos eram como nuvens de tempestade, e sua boca estava repleta de dentes pontiagudos. Quando o menino se aproximou do guardião do portão, este uivou alto e rosnou para o menino, que se assustou, desequilibrou e caiu no chão.

    Quando caiu, o menino machucou o pé em algumas pedras, e ao vê-lo cobrir os olhos para chorar, o guardião sentiu uma profunda inquietação, e então abraçou o menino, que estava trêmulo, e o ergueu do chão sem dificuldades e o levou para dentro do Jardim.

    A medida que eles entravam no Jardim, o menino foi se sentindo mais confiante e munido de coragem, ele encostou a cabeça no peito do guardião, e pôs-se a ouvir o coração daquele ser estranho. De algum modo, as batidas aceleradas do coração do guardião estavam em perfeita sincronia com o coração do rapaz, e isso o alegrou e sem conseguir controlar, ele sorriu.

    “Porque está sorrindo rapaz?”, o guardião perguntou num tom de voz duro.

    “Nossos corações batem igual…”, o rapaz sussurrou timidamente, e então completou: “E eu não sou um menino…”

    “E o que você é então?”, o guardião perguntou curioso.

    “Não sou nada, e ao mesmo tempo sou tudo… Sou flores, grama, hera, pedra, árvore, homem, mulher, sol e lua e ao mesmo tempo, eu não sou nada disso!”, disse o rapaz em um tom de voz firme.

    “E o que buscas nestas terras, menino-menina?”, perguntou o guardião.

    “Procuro paz, procuro um lugar onde posso ser eu mesma, sem ter medo de viver como quero.”, quando falou, o menino-menina começou a chorar e escondeu o rosto no peito do guardião, e este a abraçou firme e gentilmente.

    “Pois nestas terras eu mando, minha palavra é lei, e meu rugido faz com que o chão estremeça e o sol se esconda… Aqui você terá paz Lady-Boy, e nunca mais será incomodada por quem não te conhece ou entende…”, proclamou o guardião.

    “E como devo chamá-lo, senhor?”, ela perguntou sentindo o coração sorrir dentro do peito.

    “Pode me chamar de Guardião, de Homem, de Bruxo, de Lobo… Aqui, você nunca será Nada, neste Jardim, você é Tudo e eu serei seu oposto e teu companheiro, andaremos lado a lado no meio dessas rosas, de mãos dadas e de corações unidos… Aqui somos Rainha e Rei, Senhora e Senhor, Lobo e Loba…”

    O Guardião cuidou de Lady-Boy, curou seu pé ferido, e ergueu para ela uma casa no meio do Jardim das Rosas de Pedra, e daquele dia em diante, até o último dia em que o sol se por neste mundo, os dois se tornaram marido e mulher.