pelo interfone


Há um ano e um dia atrás eu estava nesse momento sentado numa poltrona de um ônibus que saiu de Macaé e estava se dirigindo para a rodoviária Grande Rio, cheguei lá por volta do meio-dia e meia, então esperei o ônibus que me levaria de volta para a cidade onde fui criado… Ele chegaria por volta das 13:20 por isso eu estava na área de embarque com duas malas e uma mochila, em uma das mãos um livro que havia comprado no dia anterior e na outra mão os sonhos que eu ia deixando por todo o caminho de volta.
Hoje eu me pergunto como reajo a tudo isso, e a resposta é simples: Estou bem.

Foi um longo ano, vivi coisas maravilhosas, passei por momentos difíceis, vivenciei experiências que eu jamais imaginaria e também algumas que não gostaria que tivessem se repetido. O fato é que passou-se um ano.

A minha evolução pessoal mostra que nesse período eu me tornei um ser humano diferente… Eu cresci, amadureci, me tornei menos orgulhoso, aprendi a ceder, tudo isso após uma longa contenda mental, física, emocional e mística, onde tudo o que se pode imaginar aconteceu. Era um período conturbado regido pelo ciúme, a possessividade, a teimosia e também falta de empatia… Pois é, vejam só o que o fim de um relacionamento causa.

Mas será que se soubéssemos o que viria a acontecer ainda teríamos tentado? Cícero canta em “Pelo Interfone”:

Ah, Dindi

Se tu soubesse como machuca

Não amaria mais ninguém

Quando embarquei no ônibus para Volta Redonda, eu tentei respirar mais aliviado, Silva cantava em meu fone, na mão direita eu estava segurando a japamala e na esquerda o celular onde havia uma foto nossa, juntos… Lembro de ter pensado que devia ter cerca de sete meses aquela foto, deuses, como a memória é incrível… Eu pensava em nós dois, era inevitável, lembrava de quando cheguei em sua cidade.

Você se lembra desse dia? Lembra de ter me feito esperar por quase uma hora? Nunca gostei de falta de compromisso, odeio atrasos, e eu estava com um mal humor infernal, mas sorri para você, reclamei do atraso? Sim, não seria eu se não tivesse reclamado, mas nós nos abraçamos e fomos para a nossa casa… Aquele dia foi lindo e eu me senti feliz.

Ah, Dindi

Se tu soubesses

Ah, se tu soubesses

Não contaria pra ninguém

Passou-se um longo ano…

Não sei dizer do que sinto mais falta, mas sei dizer que cada momento foi único e especial… Mesmo nas brigas, cada instante era bom, pois era nosso, é essa era a grande beleza que não soubemos aproveitar e apreciar. Bem, no pior dos casos, hoje apreciamos e aproveitamos tudo, com nossos pares, em nossas vidas, após ele longo ano.

Parabéns para nós, nessa estrada que percorremos, nós fizemos um ano de vida após a guerra fria mais cruel e desgastante onde cada recurso de vida era racionado e nada, absolutamente nada era evidente na superfície.

Já dizia o outro: “As aparências enganam”.

Quando contei ao meu namorado sobre esse ciclo ter se concluído ele me questionou se eu estava bem com tudo isso, e a resposta é sim, eu estou bem. Fiquei mal por meses, as fotos (todas elas) estavam comigo, as lembranças importantes estavam comigo, minha cabeça guardou tudo e a tecnologia se encarregou de arquivar, catalogar e manter um backup em nuvem (imagine a surpresa ao constatar que o GoogleFotos tinha armazenado as fotos que nem eu possuía). Mas sim, estou bem, cada dia se torna melhor que o anterior, tenho novos desafios, um novo amor, novas metas e – como todos – eu tenho um baú de recordações.

Fala pra ele o que nunca falou pra ninguém

Pra ele também

Um certo dia de Outono.
Terça-feira, 4 de Abril de 2017.

Pedro Shyneider