luto

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o dicionário define luto como um sofrimento mental ou stress por aflição ou perda, sofrimento agudo, arrependimento doloroso. como cirurgiões, como cientistas, somos ensinados a aprender e confiar nos livros, em definições, em definitivos. mas na vida, definições estritas raramente são válidas. na vida, o luto pode ser várias coisas que atenuem o sofrimento. luto deve ser algo que todos temos em comum, mas parece diferente em todos. não é só pela morte que temos que sofrer. é pela vida. pelas perdas. pelas mudanças, e quando imaginamos por que alguma vezes é tão ruim, por que dói tanto, temos que nos lembrar que pode mudar instantaneamente. quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive se lembrando desse dia, de alguma forma, impossivelmente, não se sentirá assim. não vai doer tanto. o luto vem em seu próprio tempo para todos. à sua própria maneira. o melhor que podemos fazer, o melhor que qualquer um pode fazer, é tentar ser honesto. a parte ruim, a pior parte do luto, é que não se pode controlá-lo e melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. e deixar para lá quando podemos. a pior parte é que no momento que você acha que superou, começa tudo de novo, e sempre, toda vez, ele tira o seu fôlego. há cinco estágios de luto. são diferentes em todos nós, mas sempre há cinco.

negação.
raiva.
barganha.
depressão.
aceitação.

– Gray’s Anatomy

domingo 18 de junho de 2017, 9:23hrs

foi o dia em que perdi a minha avó, mas nesse horário eu ainda não sabia…

quando acordei pela manhã o meu namorado estava me sacudindo, despertei com uma notícia drástica, minha mãe me ligou chorando desesperada, entre os soluços eu consegui entender apenas uma coisa, deveria ir para casa pois minha avó, mãe da minha mãe, havia falecido…

posso dizer que foi um dia extremamente corrido e exaustivo, conseguir acalmar minha mãe, fazer malas, conversar com parentes, acertar tudo, comprar passagens, tentar novamente acalmar minha mãe, ser hiper grosso com pessoas que resolvem reclamar da vida justamente nas horas mais impróprias, mas no fim das contas, às 22:55hrs minha mãe e eu estávamos embarcando num ônibus e logo estaríamos de volta ao meu lugar mais amado… minas gerais.

passei a noite em claro, comendo como dez mendigos (ansiedade ataca nessas horas), relembrando todas as coisas que eu mais amava em minha avó, pensando nas vezes em que ela ralhou comigo por alguma coisa que eu tenha feito, recordando a textura de sua pele, a maciez da sua voz, pensando em cada detalhe ao seu respeito, e isso só fez a saudade aumentar ainda mais. com tudo isso pensei também em algo ainda mais profundo, na falta que minha mãe sentiria da mãe dela, queria poder evitar que ela sentisse essa dor, mas seria desumano, o pesar é um direito dela, e eu não tinha o direito de apartar esse sentimento do peito dela, então o que me restou foi ficar ali, observando, sem poder fazer nada para ajudar, a não ser continuar por perto e abraçar quando necessário.

minha avó foi uma mulher guerreira, viveu muito e enquanto viveu travou guerras, venceu algumas, perdeu outras, mas nunca se deixou abater sua morte deixou um grande buraco, um grande buraco que não pode ser preenchido por nada, mas fazemos o possível para continuar de pé, embora a sensação da perda nunca desapareça…

nas palavras de gadú…

“Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um manto a ela, que ela me benze aonde eu for”

sinto sua falta. sentimos todos a sua falta. eu te amo. nós te amamos.

elegia

a tua morte, o que nos importa?
é apenas um momento
uma vírgula em nossa existência
é um recomeço para o senhor
é uma forma de dizer que é chegado o fim deste livro
e logo vai começar outro…

a tua morte, o que te importa?
findou-se aquele momento
é chegado agora o tempo de descanso
e assim encontrarás paz e tranquilidade…

a tua morte, a quem realmente importa?
a nós… que choramos de saudade
a nós… que nos recordamos…

O Norte sempre se lembra.