breve carta sobre os dias que estão por vir…

Nunca antes eu pensei que iria viver um momento político tão drástico… Mas aqui estamos, e o medo, a paranoia, a maldade e o ódio finalmente venceram. O medo é real, sempre soubemos que a empatia havia falecido, mas com essas últimas eleições percebi que não apenas a empatia, mas também o bom senso e o caráter.

Ontem, durante o fim das eleições, pouco tempo antes de encerrarem e sepultarem a democracia, eu estava passando por uma praça junto com o meu namorado, que andava ao meu lado na rua e a todo momento olhava para trás com medo de que pudesse vir alguém e fazer alguma coisa conosco. Fizemos o trajeto que sempre fazemos quanto estamos indo até um bairro no centro da cidade, onde outras pessoas de bem como nós se reúnem para beber e conversar, e quando passamos por essa praça ouvíamos assustamos uma mulher discursar que se sentia grata pelo “Governo Militar”, pois segundo a mesma, não existiu ditadura, mas sim um governo que se impôs e impediu que o país se tornasse o que hoje é a Venezuela…

Essas eleições provaram uma coisa, e infelizmente é algo que já sabíamos, mas agora caiu a máscara, abriram as cortinas e todos expuseram seus esqueletos para fora do armário, o país em que vivemos É SIM UM PAÍS DE PRECONCEITO E ÓDIO.

Sinto vontade de chorar desde o resultado das urnas, mas lágrimas não me sobem aos olhos, tudo o que me vem é um esgar desesperançoso e um grito mudo que morre em minha garganta… Nós perdemos, a democracia, a liberdade de ser quem somos, a razão perdeu.

Sentados com amigos em torno da mesa do bar onde fomos, quando anunciaram o resultado das eleições, meu namorado recebeu um PDF pelo whatsapp, era um guia, eu não consegui acreditar quando vi aquilo, mas era um guia de como EVITAR ser vítima de todo esse ódio, o documento tinha 17 páginas e foi enviado para ele por uma amiga da mãe dele que faz parte do grupo Mães Pela Diversidade… As pessoas enlouqueceram, eu abri hoje cedo o meu facebook, onde não entrava há meses e estou chocado com os relatos que estou lendo, e neste momento são 10h03min da manhã de segunda feira, e já existem pessoas pedindo ajuda com receio de sair de casa sozinhas. Eu moro numa cidade do interior do Rio de Janeiro, para uma população do interior, isso está fora dos padrões de sanidade.

Eu não sei onde é que isso vai parar, e tenho pavor de descobrir. Queria muito que os próximos quatro anos servissem para provar que estamos enganados, que enquanto houver lágrimas, ainda existirá esperança, mas eu já não espero muito das pessoas há tempos…

Às vítimas do regime militar, aos homens e mulheres que pegaram em armas contra um governo, àqueles que desapareceram e ainda hoje não retornaram, às mulheres, aos negros, LGBTs, pobres, inocentes, a todos que lutaram pela liberdade, aos exilados, aos ameaçados, àqueles que foram obrigados a ceder à tirania do poder, a Elis, Gal, Gil, Caê, Chico e absolutamente TODOS…

Perdão. Nós falhamos em manter um legado pacífico e democrático.