é big é big é big big big!

“FELIZ ANIVERSÁRIO!!!”, geralmente eu sou uma pessoa calada em redes sociais, principalmente em apps de mensagem, no máximo me faço mais presente em grupos de whatsapp onde converso com várias pessoas e até aí está tudo ok… nas algo mais recorrente é eu chamar as pessoas e desejar-lhes um feliz aniversário. não importa se eu tenho muito ou pouco contato com a pessoa em questão, não importa somos muito ou pouco amigos e nem se vamos passar a ser…

em dois dias eu estarei comemorando o meu aniversário, e não tem nada que me deixe mais feliz, receber os parabéns é é incrível, é ótimo saber que alguém está celebrando o fato de você estar vivo e completando mais um ano de vida, a sensação de que alguém parou o dia para lembrar de você, ou então de que te querem bem.

eu amo o meu aniversário, além de ser a data do meu nascimento, esotericamente é uma data incrível, para os celtas também é um marco, o fim de um ano e o início de outro, e tudo isso se converge para a data do meu aniversário, o dia primeiro de maio. quando digo o dia em que nasci todos comentam a mesma coisa: “Olha o dia do trabalho…”, mas sorrio e secretamente eu penso: “É o final de um ano e início de outro!”.

normalmente no meu aniversário eu comemoro o samhain, dia sem sol, quando o ano termina e recomeça, é um festival com dança, fogueira, pedidos que são queimados, desejos para que o próximo ano seja melhor, desejos para que as coisas ruins fiquem para trás. normalmente seria assim, mas aí entramos nesse período de pandemia, estamos todos em quarentena e a celebração linda que eu planejava não vai rolar.

então no fim das contas, com ou sem fogueira, logo logo vou assoprar velas e desejar coisas boas, pedir para que as coisas ruins se afastem e me alegrar por um novo ano.

breve carta sobre os dias que estão por vir…

Nunca antes eu pensei que iria viver um momento político tão drástico… Mas aqui estamos, e o medo, a paranoia, a maldade e o ódio finalmente venceram. O medo é real, sempre soubemos que a empatia havia falecido, mas com essas últimas eleições percebi que não apenas a empatia, mas também o bom senso e o caráter.

Ontem, durante o fim das eleições, pouco tempo antes de encerrarem e sepultarem a democracia, eu estava passando por uma praça junto com o meu namorado, que andava ao meu lado na rua e a todo momento olhava para trás com medo de que pudesse vir alguém e fazer alguma coisa conosco. Fizemos o trajeto que sempre fazemos quanto estamos indo até um bairro no centro da cidade, onde outras pessoas de bem como nós se reúnem para beber e conversar, e quando passamos por essa praça ouvíamos assustamos uma mulher discursar que se sentia grata pelo “Governo Militar”, pois segundo a mesma, não existiu ditadura, mas sim um governo que se impôs e impediu que o país se tornasse o que hoje é a Venezuela…

Essas eleições provaram uma coisa, e infelizmente é algo que já sabíamos, mas agora caiu a máscara, abriram as cortinas e todos expuseram seus esqueletos para fora do armário, o país em que vivemos É SIM UM PAÍS DE PRECONCEITO E ÓDIO.

Sinto vontade de chorar desde o resultado das urnas, mas lágrimas não me sobem aos olhos, tudo o que me vem é um esgar desesperançoso e um grito mudo que morre em minha garganta… Nós perdemos, a democracia, a liberdade de ser quem somos, a razão perdeu.

Sentados com amigos em torno da mesa do bar onde fomos, quando anunciaram o resultado das eleições, meu namorado recebeu um PDF pelo whatsapp, era um guia, eu não consegui acreditar quando vi aquilo, mas era um guia de como EVITAR ser vítima de todo esse ódio, o documento tinha 17 páginas e foi enviado para ele por uma amiga da mãe dele que faz parte do grupo Mães Pela Diversidade… As pessoas enlouqueceram, eu abri hoje cedo o meu facebook, onde não entrava há meses e estou chocado com os relatos que estou lendo, e neste momento são 10h03min da manhã de segunda feira, e já existem pessoas pedindo ajuda com receio de sair de casa sozinhas. Eu moro numa cidade do interior do Rio de Janeiro, para uma população do interior, isso está fora dos padrões de sanidade.

Eu não sei onde é que isso vai parar, e tenho pavor de descobrir. Queria muito que os próximos quatro anos servissem para provar que estamos enganados, que enquanto houver lágrimas, ainda existirá esperança, mas eu já não espero muito das pessoas há tempos…

Às vítimas do regime militar, aos homens e mulheres que pegaram em armas contra um governo, àqueles que desapareceram e ainda hoje não retornaram, às mulheres, aos negros, LGBTs, pobres, inocentes, a todos que lutaram pela liberdade, aos exilados, aos ameaçados, àqueles que foram obrigados a ceder à tirania do poder, a Elis, Gal, Gil, Caê, Chico e absolutamente TODOS…

Perdão. Nós falhamos em manter um legado pacífico e democrático.

último romance [postagem resgatada de 2014]

image

Em algum momento de sua vida, Shakespeare, escreveu: “Amor só é amor quando não se dobra a obstáculos.“, parece quase impossível pensar em Shakespeare hoje em dia, ainda mais com todo o caos que vemos em nosso cotidiano, tanta tragédia, tanta tristeza… É tanta dor, que simplesmente faz com que eu acredite no poder imensurável desse sentimento imponente sobre o qual O Bardo fez tanta questão de escrever e nos apresentar.

Por este motivo, nesta segunda-feira, dia 17 de Novembro estou a poucas horas de um casamento… Não um casamento qualquer, mas sim o de duas pessoas que fazem com que Shakespeare se sinta no direito de se erguer do túmulo e cuspir na cara de qualquer um que tenha a coragem de dizer que o amor não existe.

Então, sobre essas duas pessoas que irão se casar, cada um deles é tão importante quanto o outro; meus avós de consideração, mas pensar nisso me entristece, por isso resolvi adotá-los e acabei recebendo o mesmo em retribuição. Se existe duas pessoas que não tem motivo nenhum para se unirem em tão sagrada e poderosa celebração são esses dois, mas como dizer isso a dois idosos meigos, carinhosos e tão apaixonados um pelo outro? Como se aproximar de ambos e dizer: “Ei, vocês dois, não se casem, vocês não combinam em nada, é um erro esse passo… Se vocês fugirem pelos fundos eu explico a situação para todos e cada um dos dois pode ser feliz separadamente!“… E é justamente nesse ponto onde mora o erro, eles não serão felizes separados… Mais de duas décadas existe como prova de que, em algum momento, ambos foram feitos um para o outro.

Em algum momento, Marcelo Camelo cantou: “Ter fé e ver coragem no amor (…)“, sempre tive fé no amor, sempre vi coragem no amor, e mesmo sendo levado a acreditar em vários momentos que o amor não existe, hoje, em poucas horas serei testemunha da expressão mais pura e sincera desse sentimento. Não é um casamento movido pelo desejo, nem pelo interesse…

É um casamento movido pela concretização do último romance.

é hora de acordar! palavras de um ex embuste…

 

EMBUSTESnopassaro

quantas vezes você parou pra pensar que o embuste está apenas tirando uma com a sua bela carinha, mas que na verdade ele gosta sim, só está se fazendo de difícil? esqueçam essa ideia, o cara não está a fim, enquanto ele “se faz de difícil” pra você, ele sai com umas vinte pessoas, e enquanto você acredita que está sendo educado, na realidade está alimentando um monstro que gosta da atenção que você dá.

não pense que o simples fato de você não ser educado, de não voltar rastejando, ou de enviar uma tirada atrás da outra faz com que você seja superior ou esteja no comando da situação, pois você não está. você responde as mensagens dele, ouve cada áudio, se importa em responder cada detalhe que ele menciona, mesmo que este detalhe seja a culpa que ele joga sobre você por vocês não estarem juntos, que aliás, a culpa é dele.

ele não está a fim de você e isso é maravilhoso, pois a única pessoa que continua a fim de alguém é você, então é hora de acordar, é hora de lembrar a si mesma de que quem manda na sua vida é você, quem define com quem vai estar é você, que é ele o embuste, e não pense que olhar para si mesma e dizer que você decidiu respondê-lo faz com que você esteja no comando da situação.

ele é o embuste, e ele sabe como você age, pessoas como ele não deveriam ter o seu número, não deveriam ser responsáveis por tirar-lhe o sono, pessoas como ele não deveriam nem ver suas fotos; mas eles conseguem fazer isso, pois quem oferece de bandeja este direito a eles são vocês! e eu posso dizer isso, porque já estive no lugar do embuste, e vivi por muito tempo daquele lado da  fronteira, e sendo bem sincero, não tinha nada que alimentasse ainda mais o meu desejo de atormentar, do que perceber que minhas investidas surtiam efeito, e podem crer, eu não falhava nesse aspecto.

vocês que não são embustes podem cair na bobagem de acreditar que entendem como a mente do embuste funciona, mas não entendem, e por mais que eu destrinche essa forma de pensar, tudo o que vocês dirão é que não faz sentido, mas caramba, faz um puta sentido para nós, e isso é tudo o que importa, porque nós sabemos e conseguimos nos entender.

não buscamos compreensão.

buscamos pessoas que não são embustes, essas pessoas que acreditam no amor, que sonham em ser felizes, que acreditam que existe um príncipe de armadura reluzente montado num cavalo branco, e mano… essas coisas existem sim! vocês infelizmente toparam com um embuste que vai fazer com que vocês pensem o contrário.

mas vamos por parte… porque o embuste escolheu você? simplesmente porque você permitiu, desculpa, mas é um fato, e eu estou falando sério, você acreditou, sem nem ao menos desconfiar, que qualquer pessoa poderia ser seu príncipe sobre o cavalo branco, e eu não te culpo, eu estive na posição em que você está, e acreditei piamente que o príncipe apareceria diante de mim logo que eu dobrasse a esquina… o que? você quer me dizer que nunca pensou nisso? não assuma o papel de coração gelado, esse papel não cabe em você, ele é do embuste!

você acreditou, e caramba, isso não é errado, mas o embuste apareceu justamente como aquele imbecil que em algum momento acabou com a sua fantasia de que existe papai noel… só que o embuste te viciou nele, e você mergulhou na droga que ele te ofereceu sem desconfiar que era uma droga.

escrevo esse texto como um ex embuste, hoje eu namoro um cara magnífico que carinhosamente apelidei de universo… é fofo? sim, é, e eu morro de medo de que ele tenha que lidar com o embuste que eu fui. e não, não é algo que se controla, você não decide deixar de ser e pronto, nunca mais é. somos humanos, e humanos se acostumam a um comportamento, quando isso acontece é muito difícil deixar de seguir o raio do comportamento, então aí está a merda toda… por essa razão o meu conselho mais sincero é:

mate o embuste! não literalmente, é claro… que fique claro, não estou dizendo para cometerem um crime, mas matem o embuste em suas cabeças e em seus corações, matem o cara excluindo ele, bloqueando, dando um gelo, se preservando, pois se com um pedido ele consegue que você lhe dê a atenção que ele quer, então sim, ele te domina, se ele te vence pelo cansaço, então sim, ele te domina, se ele faz com que você preste mais atenção nele quando ele começa a assumir as burradas que vem cometendo e então oferece um pedido de desculpas mais um agradinho qualquer, e você aceita feliz da vida porque finalmente o cara entendeu que ele está magoando os seus sentimentos… mano, foge daí, é cilada bino!!! ele não está a fim de você, ele está a fim de brincar contigo, ele está a fim de ter alguém que dê a ele a atenção que ele acredita merecer, por isso vou repetir:

exclui;
bloqueia;
dá um gelo.

não pense que você vai mudá-lo, pois não vai, se ele não decidir mudar por conta própria, você não vai conseguir fazer absolutamente nada, e todas as suas tentativas resultarão em brigas horríveis onde você vai se sentir o pior ser humano do mundo apenas porque não consegue atingir as expectativas dele, sendo que ele nem mesmo se apaixonou por você! o embuste te controla, ele sabe exatamente o que dizer para tirá-la do sério, e sabe também o que dizer para lhe acalmar, ele sabe como tocá-la, sabe seus pontos fortes e principalmente seus pontos fracos, ele conhece você, não subestime um embuste.

eu não te critico, falo sério, acho até muito bonito quando encontro pessoas que mantém a fé no amor, mas o meu conselho é: se cuida, se preserva e cuidado com os embustes… quanto mais vocês se cercarem dessa ideia, menos embustes terão poder sobre você e juntos poderemos erguer as nossas vozes e dizer em alto brado:

embustes não passarão!

meus dias são assim…

grandmother-willow

sempre me considerei velho, mas vendo o mundo atualmente eu noto o quanto me tornei antigo. ter isso em mente não me incomoda, o incômodo foi perceber que acima de tudo é a sensação dos anos que se passaram, hoje não me recordo da idade que tenho, mas consigo ter a certeza de quantos séculos já alcancei, e por um lado isso me entristece, é como estar no meio de um labirinto sem conhecer o caminho por onde eu vim.

depois das primeiras décadas de nenhuma mudança você percebe que já viu de tudo, não literalmente, é claro. você vê coisas que são indiscutivelmente mais belas ou desumanas, ou mais seráficas, mas neste ponto, alguém como eu já suportou tantos choques e revezes que as reações são firmemente estabelecidas.

o tempo realmente é um teste de grandeza.

cem, duzentos ou trezentos anos, é aproximadamente tanto tempo quanto você pode existir antes que seus sentimentos e sua consciência se tornem cheios. não tenho nada novo para reportar sobre os últimos séculos, nem nenhum novo conto para contar, estou reduzido a reproduzir a mesma velha história e pintar a mesma impressão pálida de novo e de novo e de novo e de novo.  a substância gradualmente se corrói sobre a familiaridade inexorável do tempo.

algumas noites me fazem chorar, algumas noites me deixam doente. na maioria das noites, contudo, eu apenas não sinto nada, essa é a minha maior falha, e também de todos como eu.

“você sumiu”…

há alguns anos eu venho notando inúmeros traços de uma possível frieza e/ou desapego em relação a outras pessoas, sendo aqueles que eu amo verdadeiramente ou apenas aqueles por quem nutro uma grande estima, o fato é que, em poucas palavras: eu sou aquela pessoa que não vai te procurar (e se eu o fizer, considere-se uma pessoa de valor inestimável para mim).
    eu não compreendo a necessidade massiva que as pessoas têm em ver o outro ali, diariamente mandando mensagens, se fazendo presente (ou ao menos tentando)… não compreendo essa ideia de que se fulaninho passa um ou dois dias sem falar contigo, então essa pessoa sumiu, te esqueceu ou deixou de se importar com você. se esse for o caso, então devo presumir que a única forma de demonstrar o quão importante as pessoas são para você é através do universo virtual?

    receber uma mensagem é um gesto bacana, significa – talvez – que a pessoa está pensando em você.

    mas e quem não é assim? e quem não sente a necessidade de ficar ali, todos os dias, correndo atrás de alguém como um cão? isso significa que essa pessoa não sente sua falta? que ela não pensa em você? ou que ela não se importa se você está vivo ou morto? é bom lembrar que dar notícias é um gesto de delicadeza, interpretar uma falta de contato como forma de desinteresse, menosprezo ou mesmo que essa pessoa esqueceu de você só mostra o quanto está soterrado pela constante necessidade de atenção que atinge as pessoas hoje em dia.

    para completar essa interpretação burra, ainda tenho que ler aquela frase de duas palavras, que cria uma linha divisória entre quem falou (a vítima) e quem ouviu (o criminoso)… em algum momento entre escrever “você sumiu” e pressionar o botão para enviar a mensagem, você parou para pensar que também sumiu? que não procurar, mas apenas ficar sentado em seu troninho egocêntrico e aguardar o momento em que poderá disparar essa flecha chamada “você sumiu” não ajuda em porcaria nenhuma?

    encare seu reflexo quantas vezes quiser e se fantasie de Pobre Sofrida Abandonada, mas o distanciamento acontece para os dois lados, aquele que não buscou é tão culpado quanto aquele que se afastou, é claro que jogar a culpa em alguém é muito mais fácil; mas não se engane meu amor, tem dedo seu nesse angu!

    e para todos que perdem o seu tempo enchendo a minha caixa de mensagens dizendo que eu:

  • sumi;
  • esqueci;
  • não me importo.

    vão à merda! não preciso ficar correndo atrás de ninguém para demonstrar que me importo ou que me preocupo, não tenho que ficar cheirando o rabo de vocês para que saibam que me importo com vocês. amizade não se vê, não se toca, nem cheira, é abstrata, sabemos que ela existe porque SENTIMOS! e cada pessoa sente a sua maneira, não julgo o modo como vocês se sentem ou se expressam, então não torrem o meu saco!

luto

18076474_450411368638838_7025661321103561235_o

o dicionário define luto como um sofrimento mental ou stress por aflição ou perda, sofrimento agudo, arrependimento doloroso. como cirurgiões, como cientistas, somos ensinados a aprender e confiar nos livros, em definições, em definitivos. mas na vida, definições estritas raramente são válidas. na vida, o luto pode ser várias coisas que atenuem o sofrimento. luto deve ser algo que todos temos em comum, mas parece diferente em todos. não é só pela morte que temos que sofrer. é pela vida. pelas perdas. pelas mudanças, e quando imaginamos por que alguma vezes é tão ruim, por que dói tanto, temos que nos lembrar que pode mudar instantaneamente. quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive se lembrando desse dia, de alguma forma, impossivelmente, não se sentirá assim. não vai doer tanto. o luto vem em seu próprio tempo para todos. à sua própria maneira. o melhor que podemos fazer, o melhor que qualquer um pode fazer, é tentar ser honesto. a parte ruim, a pior parte do luto, é que não se pode controlá-lo e melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. e deixar para lá quando podemos. a pior parte é que no momento que você acha que superou, começa tudo de novo, e sempre, toda vez, ele tira o seu fôlego. há cinco estágios de luto. são diferentes em todos nós, mas sempre há cinco.

negação.
raiva.
barganha.
depressão.
aceitação.

– Gray’s Anatomy

domingo 18 de junho de 2017, 9:23hrs

foi o dia em que perdi a minha avó, mas nesse horário eu ainda não sabia…

quando acordei pela manhã o meu namorado estava me sacudindo, despertei com uma notícia drástica, minha mãe me ligou chorando desesperada, entre os soluços eu consegui entender apenas uma coisa, deveria ir para casa pois minha avó, mãe da minha mãe, havia falecido…

posso dizer que foi um dia extremamente corrido e exaustivo, conseguir acalmar minha mãe, fazer malas, conversar com parentes, acertar tudo, comprar passagens, tentar novamente acalmar minha mãe, ser hiper grosso com pessoas que resolvem reclamar da vida justamente nas horas mais impróprias, mas no fim das contas, às 22:55hrs minha mãe e eu estávamos embarcando num ônibus e logo estaríamos de volta ao meu lugar mais amado… minas gerais.

passei a noite em claro, comendo como dez mendigos (ansiedade ataca nessas horas), relembrando todas as coisas que eu mais amava em minha avó, pensando nas vezes em que ela ralhou comigo por alguma coisa que eu tenha feito, recordando a textura de sua pele, a maciez da sua voz, pensando em cada detalhe ao seu respeito, e isso só fez a saudade aumentar ainda mais. com tudo isso pensei também em algo ainda mais profundo, na falta que minha mãe sentiria da mãe dela, queria poder evitar que ela sentisse essa dor, mas seria desumano, o pesar é um direito dela, e eu não tinha o direito de apartar esse sentimento do peito dela, então o que me restou foi ficar ali, observando, sem poder fazer nada para ajudar, a não ser continuar por perto e abraçar quando necessário.

minha avó foi uma mulher guerreira, viveu muito e enquanto viveu travou guerras, venceu algumas, perdeu outras, mas nunca se deixou abater sua morte deixou um grande buraco, um grande buraco que não pode ser preenchido por nada, mas fazemos o possível para continuar de pé, embora a sensação da perda nunca desapareça…

nas palavras de gadú…

“Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um manto a ela, que ela me benze aonde eu for”

sinto sua falta. sentimos todos a sua falta. eu te amo. nós te amamos.

pelo interfone


Há um ano e um dia atrás eu estava nesse momento sentado numa poltrona de um ônibus que saiu de Macaé e estava se dirigindo para a rodoviária Grande Rio, cheguei lá por volta do meio-dia e meia, então esperei o ônibus que me levaria de volta para a cidade onde fui criado… Ele chegaria por volta das 13:20 por isso eu estava na área de embarque com duas malas e uma mochila, em uma das mãos um livro que havia comprado no dia anterior e na outra mão os sonhos que eu ia deixando por todo o caminho de volta.
Hoje eu me pergunto como reajo a tudo isso, e a resposta é simples: Estou bem.

Foi um longo ano, vivi coisas maravilhosas, passei por momentos difíceis, vivenciei experiências que eu jamais imaginaria e também algumas que não gostaria que tivessem se repetido. O fato é que passou-se um ano.

A minha evolução pessoal mostra que nesse período eu me tornei um ser humano diferente… Eu cresci, amadureci, me tornei menos orgulhoso, aprendi a ceder, tudo isso após uma longa contenda mental, física, emocional e mística, onde tudo o que se pode imaginar aconteceu. Era um período conturbado regido pelo ciúme, a possessividade, a teimosia e também falta de empatia… Pois é, vejam só o que o fim de um relacionamento causa.

Mas será que se soubéssemos o que viria a acontecer ainda teríamos tentado? Cícero canta em “Pelo Interfone”:

Ah, Dindi

Se tu soubesse como machuca

Não amaria mais ninguém

Quando embarquei no ônibus para Volta Redonda, eu tentei respirar mais aliviado, Silva cantava em meu fone, na mão direita eu estava segurando a japamala e na esquerda o celular onde havia uma foto nossa, juntos… Lembro de ter pensado que devia ter cerca de sete meses aquela foto, deuses, como a memória é incrível… Eu pensava em nós dois, era inevitável, lembrava de quando cheguei em sua cidade.

Você se lembra desse dia? Lembra de ter me feito esperar por quase uma hora? Nunca gostei de falta de compromisso, odeio atrasos, e eu estava com um mal humor infernal, mas sorri para você, reclamei do atraso? Sim, não seria eu se não tivesse reclamado, mas nós nos abraçamos e fomos para a nossa casa… Aquele dia foi lindo e eu me senti feliz.

Ah, Dindi

Se tu soubesses

Ah, se tu soubesses

Não contaria pra ninguém

Passou-se um longo ano…

Não sei dizer do que sinto mais falta, mas sei dizer que cada momento foi único e especial… Mesmo nas brigas, cada instante era bom, pois era nosso, é essa era a grande beleza que não soubemos aproveitar e apreciar. Bem, no pior dos casos, hoje apreciamos e aproveitamos tudo, com nossos pares, em nossas vidas, após ele longo ano.

Parabéns para nós, nessa estrada que percorremos, nós fizemos um ano de vida após a guerra fria mais cruel e desgastante onde cada recurso de vida era racionado e nada, absolutamente nada era evidente na superfície.

Já dizia o outro: “As aparências enganam”.

Quando contei ao meu namorado sobre esse ciclo ter se concluído ele me questionou se eu estava bem com tudo isso, e a resposta é sim, eu estou bem. Fiquei mal por meses, as fotos (todas elas) estavam comigo, as lembranças importantes estavam comigo, minha cabeça guardou tudo e a tecnologia se encarregou de arquivar, catalogar e manter um backup em nuvem (imagine a surpresa ao constatar que o GoogleFotos tinha armazenado as fotos que nem eu possuía). Mas sim, estou bem, cada dia se torna melhor que o anterior, tenho novos desafios, um novo amor, novas metas e – como todos – eu tenho um baú de recordações.

Fala pra ele o que nunca falou pra ninguém

Pra ele também

Um certo dia de Outono.
Terça-feira, 4 de Abril de 2017.

Pedro Shyneider

das coisas do ontem

2017-01-31 12.00.09 1.jpg

É curioso a forma como a memória nos atinge e ficamos sem saber o que fazer após o golpe inicial… Amanheci com uma notificação no celular, o Google, nosso fiel escudeiro e salva vidas, me avisava que havia fotos de um ano atrás, recordações de uma vida que deixei para trás, mas faz parte de quem sou, então nunca abandonei de fato.

Tais lembranças são aquele pedacinho de você que será sempre seu, e nunca poderá ser compartilhado, por mais que conte para outra pessoa, por maior que seja a riqueza de detalhes, ainda que você consiga se lembrar de cada frase sussurrada durante a madrugada após aqueles momentos incríveis de um sexo perfeito, aquilo será apenas seu. Nesse ponto você para e se pergunta se ainda dói? Foi tão profundo a ponto de nunca mais cicatrizar? É, talvez, como um sulco feito na terra, onde ainda que mais terra seja lançada por cima, aquela estreita e profunda depresão causada pelo arado jamais irá desaparecer?

E o que você faria se descobrisse que aquela marca jamais irá desaparecer? Qual seria a sua reação mais honesta? Machuca tanto assim, olhar para trás e perceber que sua vida nunca irá te abandonar? Já parou para se questionar sobre o que sente falta daquela época? Caso responda mais que imediatamente: “Não sinto falta de nada!”, pare e repense, não sente mesmo falta de absolutamente nada? Em algum momento da sua vida você concedeu a si mesmo a chance de pensar em tudo? Não falo das dores, das mágoas, dos desamores, mas sim de tudo o que existe entre esses resíduos ruins que ficam agarrados à memória.

O que será que ficou para trás? O que você não quis ver? O que você perdeu quando quis abandonar todas as lembranças que remetiam àquela antiga dor?

Em minha ânsia por apagar você da minha mente, eu perdi fotos, lugares, risos, sensações… E hoje, revendo aquelas antigas fotos que o bendito Google salvou, eu recuperei muito do que havia perdido. Recebi de volta pessoas que partiram da minha vida, reencontrei sorrisos, o calor do sol conttra a minha pele, e a chuva gostosa contra minhas costas, reconquistei abraços, beijos, carícias e carinhos, é incrível o número e o tipo de recordações que apenas uma foto pode nos devolver. Se eu fechar os olhos, sinto o cheiro de maresia, o gosto de sal na boca, o aroma de flores no cafezal, a areia sob os meus pés, o pôr-do-sol… Tudo é tão maior hoje, tão mais poderoso, engloba muito mais coisas… Tem mais brilho.

Gosto das coisas do hoje, mas adoro abraçar as coisas do ontem, porque hoje tem mais força, forma, sabor do que quando vivi.

​”Na vida, apenas uma coisa é certa, além da morte e dos impostos.Não importa o quanto você tente, não importa se são boas suas intenções,você cometerá erros. Você irá machucar pessoas. E se machucar.E se algum dia você quiser se recuperar… Há apenas uma coisa que pode ser dita…Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho,mas não muito prático. Quando alguém nos machuca,queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco,queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam,velhas feridas nunca fecham.E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer.”
~ Grey’s Anatomy