das coisas do ontem

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É curioso a forma como a memória nos atinge e ficamos sem saber o que fazer após o golpe inicial… Amanheci com uma notificação no celular, o Google, nosso fiel escudeiro e salva vidas, me avisava que havia fotos de um ano atrás, recordações de uma vida que deixei para trás, mas faz parte de quem sou, então nunca abandonei de fato.

Tais lembranças são aquele pedacinho de você que será sempre seu, e nunca poderá ser compartilhado, por mais que conte para outra pessoa, por maior que seja a riqueza de detalhes, ainda que você consiga se lembrar de cada frase sussurrada durante a madrugada após aqueles momentos incríveis de um sexo perfeito, aquilo será apenas seu. Nesse ponto você para e se pergunta se ainda dói? Foi tão profundo a ponto de nunca mais cicatrizar? É, talvez, como um sulco feito na terra, onde ainda que mais terra seja lançada por cima, aquela estreita e profunda depresão causada pelo arado jamais irá desaparecer?

E o que você faria se descobrisse que aquela marca jamais irá desaparecer? Qual seria a sua reação mais honesta? Machuca tanto assim, olhar para trás e perceber que sua vida nunca irá te abandonar? Já parou para se questionar sobre o que sente falta daquela época? Caso responda mais que imediatamente: “Não sinto falta de nada!”, pare e repense, não sente mesmo falta de absolutamente nada? Em algum momento da sua vida você concedeu a si mesmo a chance de pensar em tudo? Não falo das dores, das mágoas, dos desamores, mas sim de tudo o que existe entre esses resíduos ruins que ficam agarrados à memória.

O que será que ficou para trás? O que você não quis ver? O que você perdeu quando quis abandonar todas as lembranças que remetiam àquela antiga dor?

Em minha ânsia por apagar você da minha mente, eu perdi fotos, lugares, risos, sensações… E hoje, revendo aquelas antigas fotos que o bendito Google salvou, eu recuperei muito do que havia perdido. Recebi de volta pessoas que partiram da minha vida, reencontrei sorrisos, o calor do sol conttra a minha pele, e a chuva gostosa contra minhas costas, reconquistei abraços, beijos, carícias e carinhos, é incrível o número e o tipo de recordações que apenas uma foto pode nos devolver. Se eu fechar os olhos, sinto o cheiro de maresia, o gosto de sal na boca, o aroma de flores no cafezal, a areia sob os meus pés, o pôr-do-sol… Tudo é tão maior hoje, tão mais poderoso, engloba muito mais coisas… Tem mais brilho.

Gosto das coisas do hoje, mas adoro abraçar as coisas do ontem, porque hoje tem mais força, forma, sabor do que quando vivi.

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