Vocês passam a vida inteira colocando na cabeça dos seus filhos, ou filhx, q elxs precisam confiar em vocês, que precisam vê-los como portos seguros onde podem ter apoio e onde, aconteça o que acontecer, encontrarão forças para continuarem vivendo e encarando o mundo de cabeça erguida.
Esta é uma breve carta para vocês pais e mães q criaram seus filhos para serem boas pessoas, de valores fortes e cabeça feita. Se algum dia, seus filhos sentarem com vocês e se abrirem a respeito da identidade sexual deles, não reajam de forma negativa, não pensem no que as outras pessoas irão dizer, esqueçam a opinião dos amigos e da família, são seus filhos e elxs se abriram para vocês, pais… Não pensem nesse momento nos nomes feios pelos quais seus filhos serão chamados, ainda não… Concentrem-se num fato, vocês pais já tiveram a vida de vocês, agora é a vez dos seus filhos, vocês são o apoio de suas crianças, então ouçam com atenção cada palavra que seus filhos têm a dizer, pois é uma situação difícil para elxs também.
Sejam compreensivos, não escolhemos ser vítima de preconceito apenas porque é uma modinha cool, às vezes já sabemos o que somos desde berço, às vezes acabamos descobrindo quando de repente cruzamos com aquele cara ou aquela garota e tudo fica confuso, porque até então pensávamos ser hétero… Já temos que lidar com o medo de nos abrirmos para os nossos amigos e parentes, não aumentem ainda mais o nosso medo, não dificultem as coisas para nós, pois entendemos que o meio LGBT não é aquela corrente de abraços e beijos que gostaríamos que fosse… Temos que lidar com a homofobia vindo de nossos iguais, porque dificultar ainda mais tudo isso tornando a convivência entre vocês pais e seus filhos uma zona de guerra, onde temos de nos defender contra as pessoas que nos criaram para confiar nelas?
Em algum momento na história da humanidade os filhos existiam para perpetuar os ideais dos pais, mas isso acabou há muito tempo, e hoje, nós filhos sabemos que temos a nossa vida, querer que sejamos seus iguais é burrice, queremos ser nós mesmos, queremos ser livres, pensar diferente, nos vestir diferente, e se você pai, acredita que seu filho é menos homem por amar outro homem, pense novamente, porque ele está se colocando contra você – que pode ser homofóbico -, está se colocando contra a família, os amigos, o pastor da igreja, e até o seu Deus, tudo porque seu filho ama outro homem. E você mãe, qual é o problema da sua filha amar outra mulher? Será que quando você se casou seus pais foram à favor da sua escolha? Era a decisão deles? Você não consegue imaginar que sua filha escolheu uma mulher por uma questão simples: elas se amam!
Não estou levantando bandeira nenhuma, não falo defendendo causas, só acho que filhos deveriam receber dos seus pais um abraço quando eles chegassem nesse ponto, de ter que revelar algo tão delicado… Concordando ou não com a decisão deles, ainda são seus filhos, vocês criaram, e qual é o problema se não serem o que vocês imaginaram? Se querem ditar a vida de alguém vão jogar The Sims, estamos falando de seres humanos, dotados de sentimentos, capazes de entender o que é bom ou ruim para eles, e não adianta dizer que seus filhos não entendem nada da vida por não terem vivido, porque eu pergunto, o que vocês sabem sobre como é não se identificar com o gênero que nasceu?
Quero deixar apenas uma última coisa para vocês pensarem… Nós, que estamos vivendo essa realidade à parte do “mundo hétero” de vocês, somos obrigados a ouvir da boca de outros, termos discriminadores do tipo:
bichinha, veadinho, dá ré no quibe,
maria macho, fanchona, caminhoneira,
morde fronha, sapatão, mela cueca,
traveco, cola velcro, queima rosca,
baitola, boiola…
Agora coloquem-se no lugar dos seus filhos… Elxs ouvirão isso de um sem número de pessoas, será que merecem também ouvir de vocês pais, que ensinaram a confiar, que semearam na mente dos seus filhos a ideia de que sempre que precisassem poderiam buscar ajuda em vocês…
Abracem forte seus filhos, mesmo não sendo o que vocês esperavam, são seus filhos, filho, filha… O mundo é ainda mais difícil para elxs quando não têm apoio de vocês.