é hora de acordar! palavras de um ex embuste…

 

EMBUSTESnopassaro

quantas vezes você parou pra pensar que o embuste está apenas tirando uma com a sua bela carinha, mas que na verdade ele gosta sim, só está se fazendo de difícil? esqueçam essa ideia, o cara não está a fim, enquanto ele “se faz de difícil” pra você, ele sai com umas vinte pessoas, e enquanto você acredita que está sendo educado, na realidade está alimentando um monstro que gosta da atenção que você dá.

não pense que o simples fato de você não ser educado, de não voltar rastejando, ou de enviar uma tirada atrás da outra faz com que você seja superior ou esteja no comando da situação, pois você não está. você responde as mensagens dele, ouve cada áudio, se importa em responder cada detalhe que ele menciona, mesmo que este detalhe seja a culpa que ele joga sobre você por vocês não estarem juntos, que aliás, a culpa é dele.

ele não está a fim de você e isso é maravilhoso, pois a única pessoa que continua a fim de alguém é você, então é hora de acordar, é hora de lembrar a si mesma de que quem manda na sua vida é você, quem define com quem vai estar é você, que é ele o embuste, e não pense que olhar para si mesma e dizer que você decidiu respondê-lo faz com que você esteja no comando da situação.

ele é o embuste, e ele sabe como você age, pessoas como ele não deveriam ter o seu número, não deveriam ser responsáveis por tirar-lhe o sono, pessoas como ele não deveriam nem ver suas fotos; mas eles conseguem fazer isso, pois quem oferece de bandeja este direito a eles são vocês! e eu posso dizer isso, porque já estive no lugar do embuste, e vivi por muito tempo daquele lado da  fronteira, e sendo bem sincero, não tinha nada que alimentasse ainda mais o meu desejo de atormentar, do que perceber que minhas investidas surtiam efeito, e podem crer, eu não falhava nesse aspecto.

vocês que não são embustes podem cair na bobagem de acreditar que entendem como a mente do embuste funciona, mas não entendem, e por mais que eu destrinche essa forma de pensar, tudo o que vocês dirão é que não faz sentido, mas caramba, faz um puta sentido para nós, e isso é tudo o que importa, porque nós sabemos e conseguimos nos entender.

não buscamos compreensão.

buscamos pessoas que não são embustes, essas pessoas que acreditam no amor, que sonham em ser felizes, que acreditam que existe um príncipe de armadura reluzente montado num cavalo branco, e mano… essas coisas existem sim! vocês infelizmente toparam com um embuste que vai fazer com que vocês pensem o contrário.

mas vamos por parte… porque o embuste escolheu você? simplesmente porque você permitiu, desculpa, mas é um fato, e eu estou falando sério, você acreditou, sem nem ao menos desconfiar, que qualquer pessoa poderia ser seu príncipe sobre o cavalo branco, e eu não te culpo, eu estive na posição em que você está, e acreditei piamente que o príncipe apareceria diante de mim logo que eu dobrasse a esquina… o que? você quer me dizer que nunca pensou nisso? não assuma o papel de coração gelado, esse papel não cabe em você, ele é do embuste!

você acreditou, e caramba, isso não é errado, mas o embuste apareceu justamente como aquele imbecil que em algum momento acabou com a sua fantasia de que existe papai noel… só que o embuste te viciou nele, e você mergulhou na droga que ele te ofereceu sem desconfiar que era uma droga.

escrevo esse texto como um ex embuste, hoje eu namoro um cara magnífico que carinhosamente apelidei de universo… é fofo? sim, é, e eu morro de medo de que ele tenha que lidar com o embuste que eu fui. e não, não é algo que se controla, você não decide deixar de ser e pronto, nunca mais é. somos humanos, e humanos se acostumam a um comportamento, quando isso acontece é muito difícil deixar de seguir o raio do comportamento, então aí está a merda toda… por essa razão o meu conselho mais sincero é:

mate o embuste! não literalmente, é claro… que fique claro, não estou dizendo para cometerem um crime, mas matem o embuste em suas cabeças e em seus corações, matem o cara excluindo ele, bloqueando, dando um gelo, se preservando, pois se com um pedido ele consegue que você lhe dê a atenção que ele quer, então sim, ele te domina, se ele te vence pelo cansaço, então sim, ele te domina, se ele faz com que você preste mais atenção nele quando ele começa a assumir as burradas que vem cometendo e então oferece um pedido de desculpas mais um agradinho qualquer, e você aceita feliz da vida porque finalmente o cara entendeu que ele está magoando os seus sentimentos… mano, foge daí, é cilada bino!!! ele não está a fim de você, ele está a fim de brincar contigo, ele está a fim de ter alguém que dê a ele a atenção que ele acredita merecer, por isso vou repetir:

exclui;
bloqueia;
dá um gelo.

não pense que você vai mudá-lo, pois não vai, se ele não decidir mudar por conta própria, você não vai conseguir fazer absolutamente nada, e todas as suas tentativas resultarão em brigas horríveis onde você vai se sentir o pior ser humano do mundo apenas porque não consegue atingir as expectativas dele, sendo que ele nem mesmo se apaixonou por você! o embuste te controla, ele sabe exatamente o que dizer para tirá-la do sério, e sabe também o que dizer para lhe acalmar, ele sabe como tocá-la, sabe seus pontos fortes e principalmente seus pontos fracos, ele conhece você, não subestime um embuste.

eu não te critico, falo sério, acho até muito bonito quando encontro pessoas que mantém a fé no amor, mas o meu conselho é: se cuida, se preserva e cuidado com os embustes… quanto mais vocês se cercarem dessa ideia, menos embustes terão poder sobre você e juntos poderemos erguer as nossas vozes e dizer em alto brado:

embustes não passarão!

meus dias são assim…

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sempre me considerei velho, mas vendo o mundo atualmente eu noto o quanto me tornei antigo. ter isso em mente não me incomoda, o incômodo foi perceber que acima de tudo é a sensação dos anos que se passaram, hoje não me recordo da idade que tenho, mas consigo ter a certeza de quantos séculos já alcancei, e por um lado isso me entristece, é como estar no meio de um labirinto sem conhecer o caminho por onde eu vim.

depois das primeiras décadas de nenhuma mudança você percebe que já viu de tudo, não literalmente, é claro. você vê coisas que são indiscutivelmente mais belas ou desumanas, ou mais seráficas, mas neste ponto, alguém como eu já suportou tantos choques e revezes que as reações são firmemente estabelecidas.

o tempo realmente é um teste de grandeza.

cem, duzentos ou trezentos anos, é aproximadamente tanto tempo quanto você pode existir antes que seus sentimentos e sua consciência se tornem cheios. não tenho nada novo para reportar sobre os últimos séculos, nem nenhum novo conto para contar, estou reduzido a reproduzir a mesma velha história e pintar a mesma impressão pálida de novo e de novo e de novo e de novo.  a substância gradualmente se corrói sobre a familiaridade inexorável do tempo.

algumas noites me fazem chorar, algumas noites me deixam doente. na maioria das noites, contudo, eu apenas não sinto nada, essa é a minha maior falha, e também de todos como eu.

esqueci…

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Estou sentado diante de um documento de texto, isso está aberto, o wpp está agitado, resolvi dar uma olhada no meu telegram, do meu lado tem uma taça de álcool cereal misturado com sumo de limão e açúcar e Amy está cantando no fundo da minha mente, ela diz que as lágrimas caem sozinhas… Sempre gostei das coisas que ela dizia.
 
Então eu me lembro, lembro de você, de nós, da vida, de como tudo aconteceu, de como tudo isso -a vida, o universo e tudo o mais – pode vir a ser ingrato se não soubermos aproveitar o que temos. Às vezes entro em parafuso, questionando tudo o que tem acontecido na minha vida… Quantas vezes eu tentei não enlouquecer enquanto enlouquecia? Já não sei onde vou parar com tantos pensamentos… Acho que eu esqueci o que eu iria escrever nessa postagem…
P.S.: Ouçam esse álbum da Amy, é fantástico.

uma noite de jazz

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Elvis Costello escreveu “Nem todas as coisas boas têm um fim, apenas algumas escolhidas / Eu tenho visto tantos casais infelizes”, pois eu tenho vivido tantas coisas nesses últimos meses, e às vezes me pergunto onde foi parar a covardia que eu deveria ter sob a minha pele… Aquela covardia que aflora quando quero gritar a plenos pulmões que já não aguento mais e então jogar tudo para o alto como se essa fosse a única solução para este ocaso que tem sido a minha vida. Ainda não cheguei a esse ponto, mas sei que estou quase lá…

Quase triste
Está quase tocando, vai quase fazer
Há uma parte de mim que é sempre verdadeira…
sempre

Quantas vezes percebemos que a nossa vida está repleta de quases? Estamos quase conseguido as coisas que queremos… mas nunca conseguimos. Meu amigo Chet Baker está tocando “The Touch of Your Lips” para mim, mal sabe ele que esse é o tipo de música que me derrota, queria pedir para ele parar de tocar, porque foi justamente quando alguém tocou a minha testa com os lábios, que eu precisei dizer adeus a esse alguém, nessa época eu não sabia, mas logo estaria chorando tanto que meus pais entrariam em desespero por não saber o que fazer comigo.

Resolvo mudar de música e o spotify me presenteia com uma voz dolorida que diz “Mas agora aconteceu / Não adianta falar / O silêncio entre mim e você nunca teve significado”, um novo quase… E agora estou ouvindo “In a sentimental mood” e já à beira do desespero, o som do trompete me arranca de dentro de mim, é quase sobrenatural a forma como tudo acontece, acho que estou sendo hipnotizado por um aplicativo, o que é completamente ridículo… Prefiro ouvir Duke Ellington, é um pouco mais enérgico, quase uma imposição… Deuses, preciso de um abraço… E nesse momento, as palavras de Ray Noble me dão uma surra.

The touch of your lips
Upon my brow
Your lips that are cool
And sweet
Such tenderness lies
In their soft caress
My heart forgets to beat

Sempre esperei que a vida me trouxesse um amor, sempre quis uma indicação de que aquela pessoa estava ali, caminhando na minha direção, e quando nos encontrássemos eu diria: “Ooooo meu velho, você demorou, mas estou contente por estar aqui, finalmente poderemos caminhar de mãos dadas”. Muitas vezes percebemos paulatinamente aquele erro fatal, e quando encaramos de frente, entendemos que o fim estava ali há tempo demais… Nós que nunca nos demos conta. E o meu coração esquece de bater.

Acho que a essa altura eu posso acender um cigarro, tomar o meu café e aceitar aquele fato mortal, quase fomos felizes, quase ficamos juntos, mas com certeza isso jamais acontecerá, e Ray Noble continua, enquanto o som do trompete ao fundo encerra uma das músicas mais sensíveis que ouvi nesta noite…

O toque dos seus lábios
O amor em seus olhos
O toque dos seus lábios
No meu …

Olha, estou aqui pensando com os meus botões, teria como eu ganhar aquele abraço?

Tipo…

Agora?

certa mãe

Ela chegou no trabalho com um hematoma no rosto mas a maquiagem cobriu bem, e para todos que repararam bem, ela disse ter batido o rosto na porta do armário da cozinha. Numa segunda vez chegou no trabalho com as costelas doloridas, havia esbarrado no balcão.

– Nossa, como você é desastrada. – diziam suas amigas, e ela apenas sorria.

Um dia chegou em casa e viu o marido com a mão dentro da calça, parado à porta do quarto da filha e a menina brincava sentada no chão com suas bonecas.

Horas mais tarde a mulher dirigia até a casa dos pais, a filha estava no banco de trás, suas coisas no porta malas e havia o corpo de um homem enterrado no jardim da casa onde morou.

carta aos pais, sejam vocês quem forem

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Vocês passam a vida inteira colocando na cabeça dos seus filhos, ou filhx, q elxs precisam confiar em vocês, que precisam vê-los como portos seguros onde podem ter apoio e onde, aconteça o que acontecer, encontrarão forças para continuarem vivendo e encarando o mundo de cabeça erguida.

Esta é uma breve carta para vocês pais e mães q criaram seus filhos para serem boas pessoas, de valores fortes e cabeça feita. Se algum dia, seus filhos sentarem com vocês e se abrirem a respeito da identidade sexual deles, não reajam de forma negativa, não pensem no que as outras pessoas irão dizer, esqueçam a opinião dos amigos e da família, são seus filhos e elxs se abriram para vocês, pais… Não pensem nesse momento nos nomes feios pelos quais seus filhos serão chamados, ainda não… Concentrem-se num fato, vocês pais já tiveram a vida de vocês, agora é a vez dos seus filhos, vocês são o apoio de suas crianças, então ouçam com atenção cada palavra que seus filhos têm a dizer, pois é uma situação difícil para elxs também.

Sejam compreensivos, não escolhemos ser vítima de preconceito apenas porque é uma modinha cool, às vezes já sabemos o que somos desde berço, às vezes acabamos descobrindo quando de repente cruzamos com aquele cara ou aquela garota e tudo fica confuso, porque até então pensávamos ser hétero… Já temos que lidar com o medo de nos abrirmos para os nossos amigos e parentes, não aumentem ainda mais o nosso medo, não dificultem as coisas para nós, pois entendemos que o meio LGBT não é aquela corrente de abraços e beijos que gostaríamos que fosse… Temos que lidar com a homofobia vindo de nossos iguais, porque dificultar ainda mais tudo isso tornando a convivência entre vocês pais e seus filhos uma zona de guerra, onde temos de nos defender contra as pessoas que nos criaram para confiar nelas?

Em algum momento na história da humanidade os filhos existiam para perpetuar os ideais dos pais, mas isso acabou há muito tempo, e hoje, nós filhos sabemos que temos a nossa vida, querer que sejamos seus iguais é burrice, queremos ser nós mesmos, queremos ser livres, pensar diferente, nos vestir diferente, e se você pai, acredita que seu filho é menos homem por amar outro homem, pense novamente, porque ele está se colocando contra você – que pode ser homofóbico -, está se colocando contra a família, os amigos, o pastor da igreja, e até o seu Deus, tudo porque seu filho ama outro homem. E você mãe, qual é o problema da sua filha amar outra mulher? Será que quando você se casou seus pais foram à favor da sua escolha? Era a decisão deles? Você não consegue imaginar que sua filha escolheu uma mulher por uma questão simples: elas se amam!

Não estou levantando bandeira nenhuma, não falo defendendo causas, só acho que filhos deveriam receber dos seus pais um abraço quando eles chegassem nesse ponto, de ter que revelar algo tão delicado… Concordando ou não com a decisão deles, ainda são seus filhos, vocês criaram, e qual é o problema se não serem o que vocês imaginaram? Se querem ditar a vida de alguém vão jogar The Sims, estamos falando de seres humanos, dotados de sentimentos, capazes de entender o que é bom ou ruim para eles, e não adianta dizer que seus filhos não entendem nada da vida por não terem vivido, porque eu pergunto, o que vocês sabem sobre como é não se identificar com o gênero que nasceu?

Quero deixar apenas uma última coisa para vocês pensarem… Nós, que estamos vivendo essa realidade à parte do “mundo hétero” de vocês, somos obrigados a ouvir da boca de outros, termos discriminadores do tipo:

bichinha, veadinho, dá ré no quibe,
maria macho, fanchona, caminhoneira,
morde fronha, sapatão, mela cueca,
traveco, cola velcro, queima rosca,
baitola, boiola…

Agora coloquem-se no lugar dos seus filhos… Elxs ouvirão isso de um sem número de pessoas, será que merecem também ouvir de vocês pais, que ensinaram a confiar, que semearam na mente dos seus filhos a ideia de que sempre que precisassem poderiam buscar ajuda em vocês…

Abracem forte seus filhos, mesmo não sendo o que vocês esperavam, são seus filhos, filho, filha… O mundo é ainda mais difícil para elxs quando não têm apoio de vocês.

mais uma sobre quem escreve…

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Odeio ser tocado… Pois é, está aí uma verdade estranha, considerado o fato de eu ser um ser humano extremamente carinhoso, que adora tocar as pessoas que gosta. Mas eis aí uma verdade séria ao meu respeito… ODEIO SER TOCADO.

   Existe algo entre invadir o espaço pessoal e a permissão para que adentrem este espaço, a linha entre esses dois pólos é muito fina (e para mim quase inexistente), então eu fico incomodado quando as pessoas acreditam que têm essa liberdade de chegar e me abraçar, porque gosto de estar em meu isolamento, é seguro pra mim, é bom, não preciso me preocupar com nada além de mim, e isso me faz bem? Sim, isso me faz um bem extraordinário.

   Eu sei que ninguém é uma ilha, eu sei que vivo em sociedade, eu sei que é sempre bom ter alguém ou algo a que possa se agarrar, e eu me agarro em mim, com todas as minhas forças, eu me seguro na única pessoa em quem confio que é forte o bastante para manter-se firme caso o meu eu interior vacile, esta pessoa é o meu eu exterior, e acreditem, ele segura bem as pontas.

   Bem, vivemos num país onde é costume você ser abraçado quando não está se sentindo bem… Para pessoas que não gostam de ser tocadas (como eu), isso é complicado, porque abraçar e dar tapinhas nas costas são atitudes completamente descartáveis, sério, isso não funciona comigo, não adianta, a não ser que eu tome a iniciativa e abrace ou peça um abraço, aí a coisa muda de figura. É difícil entender, eu sei, mas pensem em uma criança que detesta ser tocada, imaginem… Um pirralho de três para quatro anos, extremamente aborrecido porque as pessoas queriam pegar esta criança no colo e ficar abraçando e/ou beijando; pois é, este era eu, cresci e não mudei muito, continuo uma verdadeira inconha, e não passei a gostar mais de ser tocado.

   Não sou contra demonstrações de afeto, deuses, eu amo demonstrações de afeto, pegar na mão, abraçar, beijar, morder, cheirar, gosto de tudo isso, mas a dois, um casal pode fazer isso numa boa, quando você não está bem, e seu/sua companheirx te abraça, te coloca no colo e faz com que você se sinta protegido, acolhido… Cara isso é ótimo, é lindo, é maravilhoso… Isso é bom, e eu amo esse tipo de contato, mas se você é meu amigo, se é um parente, se é um colega, se é alguém que estudou comigo no maternal e por alguma razão estranha e inquietante se lembra de mim até os dias atuais, por favor, eu repito em  caixa alta, negrito, itálico e sublinho, POR FAVOR, aperte a minha mão, fique a um braço de distância comigo, mas não me abrace.

a história do jardim das rosas de pedra

Certa vez havia um rapaz que vivia num vilarejo próximo a um belo jardim de rosas de pedra. Ele era diferente dos outros meninos e todos o achavam esquisito, pq havia algo mais dentro dele, e ninguém conseguia entendê-lo.

    Isso porque esse menino não era exatamente um menino, e nem uma menina, ele estava entre os dois polos, e não se achava em nenhum deles, as pessoas se sentiam desconfortáveis quando estavam próximas a ele, e ele percebia isso, e por essa razão decidiu viver no Jardim das Rosas de Pedra.

    O Jardim era cercado por altos muros, e o menino acreditou que lá dentro ele estaria seguro do mundo, então, confiante de que aquela era a melhor decisão, ele rumou até o portão do Jardim e se deparou com um ser estranho.

    Não era nada parecido com as pessoas que ele havia visto pois apesar de parecer um rapaz comum, havia algo de diferente nele, os olhos eram como nuvens de tempestade, e sua boca estava repleta de dentes pontiagudos. Quando o menino se aproximou do guardião do portão, este uivou alto e rosnou para o menino, que se assustou, desequilibrou e caiu no chão.

    Quando caiu, o menino machucou o pé em algumas pedras, e ao vê-lo cobrir os olhos para chorar, o guardião sentiu uma profunda inquietação, e então abraçou o menino, que estava trêmulo, e o ergueu do chão sem dificuldades e o levou para dentro do Jardim.

    A medida que eles entravam no Jardim, o menino foi se sentindo mais confiante e munido de coragem, ele encostou a cabeça no peito do guardião, e pôs-se a ouvir o coração daquele ser estranho. De algum modo, as batidas aceleradas do coração do guardião estavam em perfeita sincronia com o coração do rapaz, e isso o alegrou e sem conseguir controlar, ele sorriu.

    “Porque está sorrindo rapaz?”, o guardião perguntou num tom de voz duro.

    “Nossos corações batem igual…”, o rapaz sussurrou timidamente, e então completou: “E eu não sou um menino…”

    “E o que você é então?”, o guardião perguntou curioso.

    “Não sou nada, e ao mesmo tempo sou tudo… Sou flores, grama, hera, pedra, árvore, homem, mulher, sol e lua e ao mesmo tempo, eu não sou nada disso!”, disse o rapaz em um tom de voz firme.

    “E o que buscas nestas terras, menino-menina?”, perguntou o guardião.

    “Procuro paz, procuro um lugar onde posso ser eu mesma, sem ter medo de viver como quero.”, quando falou, o menino-menina começou a chorar e escondeu o rosto no peito do guardião, e este a abraçou firme e gentilmente.

    “Pois nestas terras eu mando, minha palavra é lei, e meu rugido faz com que o chão estremeça e o sol se esconda… Aqui você terá paz Lady-Boy, e nunca mais será incomodada por quem não te conhece ou entende…”, proclamou o guardião.

    “E como devo chamá-lo, senhor?”, ela perguntou sentindo o coração sorrir dentro do peito.

    “Pode me chamar de Guardião, de Homem, de Bruxo, de Lobo… Aqui, você nunca será Nada, neste Jardim, você é Tudo e eu serei seu oposto e teu companheiro, andaremos lado a lado no meio dessas rosas, de mãos dadas e de corações unidos… Aqui somos Rainha e Rei, Senhora e Senhor, Lobo e Loba…”

    O Guardião cuidou de Lady-Boy, curou seu pé ferido, e ergueu para ela uma casa no meio do Jardim das Rosas de Pedra, e daquele dia em diante, até o último dia em que o sol se por neste mundo, os dois se tornaram marido e mulher.